EXPOSIÇÃO
Invisível e Palpável
Como curar o invisível? Pergunta que me faço frequentemente no trabalho com obras sensíveis, à margem da produção hegemônica, e que as produções de Bianca Moreno vêm ativar. Ela brinca com as imagens buscando despertar em nós uma escuta do invisível: as vozes das montanhas, das pedras, matas, nuvens, estrelas, lua. Com a companhia dos povos da floresta (com suas medicinas que fazem ver e ouvir), a errância pelas estradas do Brasil, e uma câmera na mão, Bianca se põe esse desafio da sutileza, das nuances. Dá a ver com delicadeza a beleza e o mistério que insistimos em renunciar. E como despertar essa escuta? A artista nos ajuda adentrar esse região imprecisa por meio de recursos que sobrepõe a seus registros: camadas, cores, luz e movimento, palavras. Assim transitamos pelo dia e a noite, o céu e a terra, o lusco-fusco. Saboreamos palavras que tateiam buscando nomear o que escapa. As imagens vão criando camadas de sonhos, ativando um universo onírico que tem potência para nos desprender do mundo materialmente visível e adentrar outras dimensões da existência. Ao vagar pelas estradas e imagens junto com ela, é possível que algo se desloque em nós. Pequenos e sutis deslocamentos que têm força para investir em novas sensibilidades e em mundos por vir. Deixemo-nos tomar pelo convite. Boa viagem! MARIANA LOUVER
Construir o caminho dos meus sonhos dentro da fotografia me pede para estar presente em ouvir as histórias que os lugares contam. Me afeto pelos tons do céu, entre rosa, laranja, amarelos e azuis. É uma dança que está disponível para assistir todo dia, sempre que o Dia e a Noite se encontram. Dou-me a liberdade de estar com a câmera na mão e ser/estar com o tempo, à buscar histórias antigas e silenciosas que acionam o coração. A necessidade de desconstruir para construir novas narrativas, me faz pesquisar cosmologias dos povos originários, plantas, saberes ritualísticos e práticas que sensibilizam meu corpo para ouvir e ver melhor. Indo e vindo dessa pesquisa, me encanto com o céu, montanhas, vales, águas, estrelas, cores, seres, vozes e toques. As imagens são paisagens e escuta entre os invisíveis e palpáveis. Uma expressão parida da colagem digital que faz a imagem se apresentar viva, como nos outros momentos que a encontrei. As vezes são singelas e delicadas. Em outras, são puro delírios de luzes do céu com raízes profundas da terra. Descubro através delas nuances em mim. É preciso crer para depois ver os cenários e habitats, camadas e dimensões, seres e guias, em voz e em toque. O manifesto do silêncio é vibrante. Como corredor, um fio, uma corda que entrepassa o meio e forma os caminhos para as paisagens invisíveis.
BIANCA MORENO
Mariana Louver é terapeuta ocupacional e mestre em artes, adora contemplar e se afetar pela vida e suas criações. Realizou, juntamente com Bianca, a curadoria desta exposição.
Como terapeuta ocupacional e curadora, acompanha o desenvolvimento de processos criativos buscando trazer à superfície a expressão genuína e singular de cada ser.